Notícias do Uruguay – I
Virgílio de Mattos[1]
Creio que foi o conservador Jorge Luis Borges, mais conhecido por sua literatura do que pelo fascismo que professava[2], quem disse ser uma livraria o lugar mais parecido com o paraíso.
O lugar mais parecido com o paraíso cristão que eu conheço, com o que concorda Laura Lambert, é uma fábrica de lutas. Uma fábrica que ensine aos trabalhadores das diversas fábricas a se organizarem contra a exploração capitalista. Essa fábrica de lutas existe e nós visitamos essa fábrica, perto do monumento aos Detenidos Desaparecidos, em Montevideo, na semana passada.
Por ali estive na busca de material sobre um projeto de pós-doutorado que venho acariciando há tempos: o enlouquecimento dos presos políticos. Mas isso é uma outra estória da história.
A pergunta que me fiz é por que o monumento não está em nenhuma lista de city tour. E isso se pode entender, mas porque o movimento sindical brasileiro não aprende o passo atrás que é se multidividir eu custo a entender.
Da belíssima livraria (não lhe declino o nome porque não estou para fazer propaganda para empresas. Na verdade a gente acaba fazendo quase qualquer tipo de papel, mas este eu me recuso) na Peatonal Sarandi; penso que qualquer pessoa alfabetizada gostaria de se mudar para ali; vou levar para sempre a beleza de tudo aquilo nas fatigadas retinas. A livraria em si é um passeio para vários dias…
Mas que dizer da fábrica de lutas e de bons lutadores que é a PIT-CNT uruguaya?
Feitos de um aço resistente demais, os sindicalistas que trabalhavam e trabalham ali, passaram por quase tudo que houve de pior (prisões, torturas, exílio) nas várias ditaduras do cone-sul. Retomaram a legalidade da organização, no peito, e seguem na luta contra o capitalismo. Todos os dias construindo as saídas, nas ruas, viadutos e avenidas, como dizia o poeta.
Deve ser fácil pra eles sonhar, pois transformam os sonhos de uma sociedade justa em realidade.
Ali nos recebeu Marta Valverde, uma mulher muito parecida com a mulher que amo: de fibra. Na verdade este texto é só pra dizer, Marta, o quanto foi importante pra nós termos conhecido você.
¡Gracias!
[1] – Do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Do Fórum Mineiro de Saúde Mental. Autor de Crime e Psiquiatria – Preliminares para a Desconstrução das Medidas de Segurança, A visibilidade do Invisível e De uniforme diferente – o livro das agentes, dentre outros. Advogado criminalista. virgilio@portugalemattos.com.br
[2] – Se acham que estou exagerando deem um pulinho na biografia dele. Em especial no discurso de agradecimento feito à Pinochet quando dele recebeu uma medalha.
Deu vontade de ir nas duas. Mais vontade de ir na fábrica de lutas. Livro é um negócio meio paradão, né?
Bom seria trazer a fábrica de lutas pra cá.
Quem sabe não é uma boa tática?
Livro, além de paradão, a gente fica olhando, olhando pra eles e só se a gente abrir e começar a ler que ele começa a interagir. Dá um trabalho!
Gostei muito do texto. Lembrei o Julio Cortázar, que, lógico, me foi apresentado pelo Carlos: “E não é mau que as coisas nos encontrem outra vez todo dia e sejam as mesmas. Que a nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio e que o romance aberto em cima da mesa comece a andar outra vez na bicicleta de nossos óculos, por que haveria de ser mau?”
Tem hora que esse negócio paradão que é livro anda, corre, voa, né? Quanto à PIT-CNT, fico pensando na sensação de coisas fortes acontecidas que vocês devem ter tido quando estiveram lá.
Ocê nem imagina, Mônica.
Depois a Laurinha conta os detalhes ao vivo procê.
Concordo com tudo, Virgílio. E também acho a Marta uma mulher espetacular.