ENTRE UMA FÁBRICA DE LUTAS E O PARAÍSO EU FICO INDECISO?

 

Notícias do Uruguay – I

Virgílio de Mattos[1]

Creio que foi o conservador Jorge Luis Borges, mais conhecido por sua literatura do que pelo fascismo que professava[2], quem disse ser uma livraria o lugar mais parecido com o paraíso.

O lugar mais parecido com o paraíso cristão que eu conheço, com o que concorda Laura Lambert, é uma fábrica de lutas. Uma fábrica que ensine aos trabalhadores das diversas fábricas a se organizarem contra a exploração capitalista. Essa fábrica de lutas existe e nós visitamos essa fábrica, perto do monumento aos Detenidos Desaparecidos, em Montevideo, na semana passada.

livraria

Livraria, substantivo feminino. Lugar onde, de modo agradável, ficam enlouquecidos os alfabetizados pobres.

Por ali estive na busca de material sobre um projeto de pós-doutorado que venho acariciando há tempos: o enlouquecimento dos presos políticos. Mas isso é uma outra estória da história.

A pergunta que me fiz é por que o monumento não está em nenhuma lista de city tour. E isso se pode entender, mas porque o movimento sindical brasileiro não aprende o passo atrás que é se multidividir eu custo a entender.

Da belíssima livraria (não lhe declino o nome porque não estou para fazer propaganda para empresas. Na verdade a gente acaba fazendo quase qualquer tipo de papel, mas este eu me recuso) na Peatonal Sarandi; penso que qualquer pessoa alfabetizada gostaria de se mudar para ali; vou levar para sempre a beleza de tudo aquilo nas fatigadas retinas. A livraria em si é um passeio para vários dias…

Mas que dizer da fábrica de lutas e de bons lutadores que é a PIT-CNT uruguaya?

PIT-CNT

Sede de La PIT-CNT Uruguaya, interior 2º piso, dia. Plenario Intersindical de Trabajadores - Convención Nacional de Trabajadores (PIT-CNT), é a única central sindical uruguaya. A CNT foi fechada pelo golpe militar, em 1973, e posta na ilegalidade. Em 1982 os trabalhadores começam a se reorganizar na legalidade com a criação do Plenário Intersindical dos Trabalhadores. Em 1984 passa a reutilizar a denominação original, sem abandonar a sigla PIT. Tem 200 mil filiados em 64 unidades.

Feitos de um aço resistente demais, os sindicalistas que trabalhavam e trabalham ali, passaram por quase tudo que houve de pior (prisões, torturas, exílio) nas várias ditaduras do cone-sul. Retomaram a legalidade da organização, no peito, e seguem na luta contra o capitalismo. Todos os dias construindo as saídas, nas ruas, viadutos e avenidas, como dizia o poeta.

Deve ser fácil pra eles sonhar, pois transformam os sonhos de uma sociedade justa em realidade.

Ali nos recebeu Marta Valverde, uma mulher muito parecida com a mulher que amo: de fibra. Na verdade este texto é só pra dizer, Marta, o quanto foi importante pra nós termos conhecido você.

¡Gracias!



[1] – Do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Do Fórum Mineiro de Saúde Mental. Autor de Crime e Psiquiatria – Preliminares para a Desconstrução das Medidas de Segurança, A visibilidade do Invisível e De uniforme diferente – o livro das agentes, dentre outros. Advogado criminalista. virgilio@portugalemattos.com.br

[2] – Se acham que estou exagerando deem um pulinho na biografia dele. Em especial no discurso de agradecimento feito à Pinochet quando dele recebeu uma medalha.

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5 respostas para ENTRE UMA FÁBRICA DE LUTAS E O PARAÍSO EU FICO INDECISO?

  1. Carlos Magalhaes disse:

    Deu vontade de ir nas duas. Mais vontade de ir na fábrica de lutas. Livro é um negócio meio paradão, né?

  2. Virgílio disse:

    Bom seria trazer a fábrica de lutas pra cá.
    Quem sabe não é uma boa tática?

    Livro, além de paradão, a gente fica olhando, olhando pra eles e só se a gente abrir e começar a ler que ele começa a interagir. Dá um trabalho!

  3. Mônica disse:

    Gostei muito do texto. Lembrei o Julio Cortázar, que, lógico, me foi apresentado pelo Carlos: “E não é mau que as coisas nos encontrem outra vez todo dia e sejam as mesmas. Que a nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio e que o romance aberto em cima da mesa comece a andar outra vez na bicicleta de nossos óculos, por que haveria de ser mau?”

    Tem hora que esse negócio paradão que é livro anda, corre, voa, né? Quanto à PIT-CNT, fico pensando na sensação de coisas fortes acontecidas que vocês devem ter tido quando estiveram lá.

  4. Virgílio disse:

    Ocê nem imagina, Mônica.
    Depois a Laurinha conta os detalhes ao vivo procê.

  5. Mouzar Benedito disse:

    Concordo com tudo, Virgílio. E também acho a Marta uma mulher espetacular.

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